Conexões Orteguianas – 2
A cena do mundo na cena do Outro
Interessa-me a/s circunstância/s, o eu-aqui / mundo aí, a tua, a nossa, de outros.
Interessa-me verdadeiramente a Pessoa e o Indivíduo; o o Autor e a Personagem. Interessame sobretudo as liberdades.
Não apenas ou somente a liberdade de expressão, mas a expressão das liberdades. Interessam-me as coisas vivas e as humanas, na devida hierarquia que é preciso dar em relação às coisas e aos humanos, aos animais e aos amados – ainda que demasiado mundanos o sejam. Isso é diferente das coisas que fazemos, queremos, produzimos, usamos ou distribuímos em nossa vida cotidiana. Há um novo sentido na relação entre homens e coisas, ou nas palavras de Ortega, “as coisas mudas que estão em nosso próximo derredor”. Em nosso próximo derredor… Escutei essas palavras como ecos de uma poesia filosófica, e recito-as como sussurro de um vento calmo que bate suave e firme na superfície da mente.
Já havia escrito alhures, o silêncio é uma paisagem. Nesta escuta silenciosa que agora faço com a leitura das Meditações, tudo ganha uma nova configuração, um novo desenho se forma, tanto mais me concentro e sigo as pegadas de Ortega em cada uma das páginas monumentais do seu Quixote.
O silêncio é uma paisagem. A palavra incita-me no seu recorte. << pais – agem >> Ela diz
algo mais do que pode, pois, o país que se desprende da paisagem tanto pode ser tanto a
Espanha de Ortega como o Brasil deste seu leitor. Pais-agem pode ser algo a nos conduzir noutra direção em relação com as coisas ou mundos: ao quadro do artista, ao olhar do cineasta, ao campo de visão do cientista, ao ambiente inteiro do ecologista, à paisagem a céu aberto ou a este nosso desenho interior, no que há de mais profundo ou rasante, de mais elevado ou superficial.
E observando bem as coisas, vejo uma criança dentro de tudo isso. A paisagem que ainda
se situa e me situa num tempo em que esta percepção ainda não tinha se formado em mim, ou só existia desfocada no tempo. Talvez seja esta a paisagem que ainda resta, já velho, daquela do bairro da estação, a do morrinho da barreira, da bancada de cortes e picadinhos de carnes, da mesa do ateliê do fundo do frigorífico…
ENSAIOS
Os Alfabetos de Flusser
As Orteguianas
Conexões Orteguianas – 1
Conexões Orteguianas – 2
Conexões Orteguianas – 3
Conexões Orteguianas – 4
Ortega y Gasset e os Filósofos Inovadores
No palco giratório de Peter Sloterdijk
Os alfabetos de Flusser
O doador de formas
A chance da compoesia
Leitores inventivos
Retratos do Leitor Ausente
Bons encontros
Written by : José Paulo Teixeira
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Donec fringilla nunc eu turpis dignissim, at euismod sapien tincidunt.